quarta-feira, 20 de abril de 2016

CARTA ÀS EDUCADORAS E EDUCADORES POPULARES DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

    O CPCC, como membro da rede paraibana de educadores em ecosol, vem por meio do seu blog socializar a carta de construída durante a Reunião do Conselho Gestor do CFES-NE em 08 de abril de 2016 em Recife.





Recife, 08 de abril de 2016.

CARTA ÀS EDUCADORAS E EDUCADORES POPULARES DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

O Conselho Gestor do Centro de Formação de Educadoras e Educadores de Economia Solidária – Nordeste, em sua quinta reunião, realizada no período de 6 a 8 de abril de 2016, em Recife – PE, decide se posicionar acerca do contexto atual que põe em ameaça as novas perspectivas de vida que vêm sendo construídas ao longo dos últimos anos quando, a partir da Constituição de 1988, os movimentos apontavam para a conquista de uma institucionalidade mais democrática. A reflexão realizada enfatizou que, nos anos 90, o Brasil viveu uma onda neoliberal que impôs limites ao Estado e que desencadeou um processo de crescente desemprego, recessão econômica e redução dos direitos sociais, ocasionando uma ampla resposta por parte dos movimentos sociais e populares.

Diante desse cenário, os grupos populares do meio urbano e rural buscaram formas de organização econômica e novas sociabilidades fora do mundo do trabalho assalariado e do ambiente de competição. É aí que essas organizações, pautadas nos princípios da cooperação e da solidariedade, em resposta às relações de precarização e submissão estabelecidas pelo sistema capitalista e por outras formas de opressão, surgem e revelam a importância de questionar a representação hegemônica de riqueza, assim como a função que desempenha a moeda na sociedade atual. Para a economia solidária é uma armadilha mortal deixar que se imponham critérios financeiros especulativos e de rentabilidade como modelo para a construção da noção de riqueza, cuja essência ignora os desafios ecológicos e humanos aos quais nos enfrentamos.

As expectativas de uma vida melhor impulsionaram a perspectiva dos movimentos sociais, dos povos e comunidades tradicionais, da classe trabalhadora, dos desempregados, fazendo frente à realidade posta pelos governos neoliberais, o que levou à eleição de um governo democrático popular em 2002. Pulsavam expectativas por uma democracia participativa capaz de responder às demandas pela reforma agrária, reforma política e o acesso à educação, saneamento, habitação e outros bens públicos e coletivos, assim como a preservação e a defesa da biodiversidade, Ao longo dos últimos 14 anos, a economia solidária se fortaleceu e ganhou visibilidade, a partir de uma interlocução com o governo, promoção do debate acerca do tema e pela organização e a consolidação do fórum brasileiro e dos fóruns estaduais. O governo federal promoveu espaços públicos importantes de construção coletiva com a realização das três conferências nacionais e estaduais, que revelaram as demandas das trabalhadoras e trabalhadores dessa outra economia.

Embora as respostas a essas demandas ainda sejam insuficientes, é inegável o reconhecimento do Estado a algumas iniciativas da economia solidária, como o apoio aos bancos comunitários de desenvolvimento (BCD), aos Fundos Solidários, às redes de produção, à comercialização, à instalação dos Centros de Formação e Assessoria Técnica em Economia Solidária, às Incubadoras Tecnológicas de Empreendimentos Econômicos Solidários, entre outras.

Porém, algumas contradições postas ao longo desses anos, geradas a partir das opções de aliança do governo, impediram o avanço de respostas mais efetivas para o processo de transformação, tal qual acreditaram as forças populares quando da conquista do pleito de 2002. Exemplo disso é a opção neodesenvolvimentista que levou a incorporação das classes populares pela via do consumo, em detrimento da cidadania e do acesso aos bens públicos. Essa mesma opção levou o governo a estreitar as alianças com os grandes grupos da construção civil, do agronegócio, da indústria automobilística, mineradoras e alguns setores do mercado financeiro.

Atualmente, em virtude de um cenário desfavorável ao crescimento da economia mundial capitalista, que repercute no Brasil e, não satisfeitos com a retração econômica no país, esses grandes grupos colocam em cheque a opção neodesenvolvimentista. Passam, assim, a fazer oposição declarada ao governo, retomando suas alianças com o neoliberalismo, pleiteando a intervenção mínima do Estado e fazendo coro com a grande mídia, a grande indústria e as grandes corporações multinacionais.

A insatisfação crescente desses setores, com a institucionalidade democrática após a reeleição da Presidente Dilma, os leva a desencadear uma ofensiva de desestabilização do governo e empreender fortemente uma tentativa de golpe. Os contornos dessa tentativa de golpe no Brasil dão conta de uma percepção maior e que se conecta à vários outros países da América Latina, onde, governos progressistas, vêm sofrendo diferentes ofensivas e ações de desestabilização dos seus processos democráticos.

Diante deste contexto, nós, educadoras e educadores populares da economia solidária, acreditamos ser fundamental a defesa da democracia como condição para o fortalecimento do processo de construção de uma vida mais justa e solidária, onde o Bem Viver seja garantido.

Conclamamos o movimento de economia solidária e todas as educadoras e educadores a juntarem-se aos outros movimentos e ocuparem as ruas em defesa da democracia, dos direitos sociais, da não criminalização dos movimentos sociais, da democratização da comunicação e de uma reforma política, aprofundando o debate e contribuindo na construção das pautas comuns.




Economia é todo dia, a nossa vida não é mercadoria!

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